noite comum de um dia qualquer em Belo Horizonte.
o ônibus para e ele entra pela porta da frente.
paga a passagem e passa a roleta.

no mesmo quarteirão, há uma operação policial.
o motorista do coletivo informa à policia de que aquele homem tem uma atitude suspeita.
a policia ordena ao homem que ele desça.

as armas estão em punho, o homem tem sua ficha criminal consultada.
ele 'está limpo', a policia o libera.

ele não tem mais dinheiro e não quer mais seguir naquele ônibus.
ele espera uma solução. os outros passageiros estão impacientes.

constrangimento.
ele desiste da viagem.

ele é negro e pobre.

ficção ou vida real?

Foi ali; eu me lembro.
Exatamente naquela esquina que nossas vidas se separaram.

Como primeira reação fiquei ali, parada. Esperando que você percebesse a decisão equivocada.
dias... semanas. Alguns meses embaixo de sol, me esquivando das chuvas; vivendo incontáveis dias cinzas - que passaram a ser meus preferidos.

Num segundo momento, busquei refazer nosso caminho pelas lembranças, sozinha. E foi doloroso constatar os atalhos errados que tomamos...
Querendo aprender para não mais errar, quase me perdi num labirinto que eu mesma inventei.

Hoje, de volta à minha estrada, ao meu caminho, agradeço por você ter me deixado naquela esquina. A partir daquele lugar, recuperei coisas que havia perdido pelo caminho.
Reencontrei pessoas queridas que ficaram à margem da minha vida e pude conhecer novas pessoas que me mostram novas paisagens.

E o mais importante disso tudo: percebi que existem outras músicas de amor, além daquelas que ofereci à você.
E novas músicas de amor sempre existirão e, um dia, poderei oferecê-las novamente a um outro alguém, que provavelmente ainda nem cruzou o meu caminho.